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Os meios de comunicação ocidentais, em mãos privadas, costumam silenciar sobre muitos temas e muitas notícias quando estas não os convêm.

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Músicas que você deve ouvir #01

Seleção de algumas músicas que você deve ouvir.

Cuba na Unesco

“O mundo vive indignado. Os povos se rebelam contra as injustiças e as promessas vazias. Se indignam pelas frustrações acumuladas e pela ausência de esperanças. Se rebelam contra um sistema devastador que já não pode seguir enganando com um falso rosto humano."

Populismo x Chavismo: Diferenças históricas

Desde a ascenção de Chávez na Venezuela a mídia de todo o mundo tem feito uma campanha para desmoralizar o processo revolucionário e um dos meios utilizados é a ridícula comparação com o populismo.

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A Morte de Kim Jong-Il e os Ataques da Mídia Contra a Coréia Socialista


Kim Jong-Il acompanha desfile militar na Coréia Socialista
Com a morte de Kim Jong Il, dirigente máximo da Coréia livre (localizada ao Norte), a mídia aproveitou para vomitar suas velhas mentiras contra a nação socialista, entre elas a suposta "ameaça nuclear comunista" de Pyongyang, omitindo que por trás do programa nuclear coreano está um dos baluartes para a paz mundial (por mais contraditório que isso possa parecer).

Luta por soberania como parte essencial da história coreana

Historicamente a Coréia é uma nação cuja independência está sob ameaça. Habitada há cerca de 8000 anos, a península foi alvo de várias incursões estrangeiras, tanto antes, quanto depois da unificação definitiva dos diversos reinos locais (por volta do século IX). Durante a Idade Contemporânea essas incursões não pararam e no início do século XX o Japão conquistou a Coréia, levando está nação à décadas de humilhações e saques, que continuaram mesmo após a derrota japonesa na década de 1940, através da intervenção político-militar ianque (que se mantêm no sul da península até os dias de hoje). Felizmente, após anos de guerra, foi possível montar um Estado soberano no norte. Sob o socialismo o povo deste país tem realizado um esforço tremendo para garantir sua independência que é ameaçada cotidianamente pelos EUA e seus lacaios na região.
Um dos aspectos mais importantes para a garantia da soberania de qualquer nação é o aspecto militar e no caso coreano essa questão é ainda mais perceptível, levando o povo desse país a fundamentar teoricamente a relação entre poderio militar e a construção do próprio socialismo, através da chamada "Política Songun" (1).

Questão nuclear e hipocrisia midiática

A mídia que ataca a Coréia socialista por causa de seu programa nuclear é a mesma mídia que omite o fato de diversas nações alinhadas aos EUA serem detentoras de um arsenal nuclear capaz de destruir o planeta dezenas de vezes, utilizando todo esse poderio bélico para amedrontar outros povos. Entre os possuidores de tais armas temos França, Inglaterra e os próprios EUA, além de possivelmente Israel.
A primeira vez que uma bomba atômica esteve na península coreana foi através do governo dos EUA (o único país na história a utilizar a bomba atômica contra pessoas, no final da II Guerra Mundial), que na década de 50 instalaram mísseis atômicos nos territórios do sul, apontados para a Coréia livre, numa clara tentativa de intimidação. Diante de tal fato, o governo norte-coreano (com a ajuda da URSS) iniciou suas pesquisas nucleares, levando a construção de reatores atômicos.
Mesmo sendo signatária do TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares), a Coréia manteve o seu direito à tecnologia nuclear pacífica intacto. O imperialismo chantageou durante anos a nação chefiada por Kim Jong Il, tendo o objetivo de desarmar completamente este povo, que sabiamente não deixou se levar pelo canto da sereia, culminando com a retirada do país (por vontade própria) deste acordo. É importante lembrar do caráter injusto do O TNP, pois o mesmo legitima os armamentos já existentes, legalizando o monopólio nuclear bélico por um pequeno grupo de países, tornando os demais reféns em potencial.
Na última década o programa nuclear coreano ganhou caráter militar e público, levando o país a um teste bem sucedido da arma atômica, incomodando ainda mais as nações imperialistas, especialmente os EUA.

O equilíbrio como baluarte da paz

A ameaça de uma nova guerra contra a Coréia socialista é constante. Desde o início desta década os EUA classificam o país como parte do chamado "Eixo do mal". Basta ver o destino de outras duas nações incluídas nessa lista (Iraque e Líbia) para perceber o grau de tensão sob o qual são obrigados a viver os coreanos.
O desenvolvimento nuclear bélico é fruto direto da falta de alternativas da Coréia livre. Só uma arma de tamanha potência pode impedir que os EUA invadam a península e, além disso, que utilizem a própria bomba atômica em qualquer região do mundo (incluíndo a Coréia junto a China, como responsáveis pelo equilíbrio militar mundial).
Não é a primeira vez na história que a humanidade se vê ameaçada pelo perigo nuclear. Durante a Guerra Fria chegamos muito próximos da autodestruição e um dos fatores que impediram tal fato foi o desenvolvimento de armas nucleares por parte da URSS, estabelecendo um equilíbrio parcial entre as potências mundiais. A posição de Stálin sobre a bomba atômica deixa bem clara a questão.
 “Os políticos dos Estados Unidos não podem deixar de saber que a União Soviética se coloca não somente contra o emprego da arma atômica, como também pela sua proibição e pela cessação de sua fabricação. (...) Os políticos dos EUA estão descontentes pelo fato de que o segredo da arma atômica seja possuído não só pelos Estados Unidos, como também por outros países e, antes de mais nada, pela União Soviética. Eles gostariam que os Estados Unidos fossem os monopolistas da fabricação da bomba atômica para que os Estados Unidos tivessem a ilimitada possibilidade de amedrontar os outros países. (...) Os interesses da manutenção da paz exigem antes de mais nada a liquidação de semelhantes monopólios e, depois, a proibição incondicional da arma atômica. Penso que os partidários da bomba atômica só aceitarão a proibição da arma atômica se virem que já não são mais os monopolistas de tal arma.”

Aspectos da democracia socialista na Coréia Popular

A lei coreana não prevê nenhum tipo de hereditariedade no poder estatal do país. Kim Jong-Un, assume o posto máximo da nação coreana do mesmo jeito que seu pai (Kim Jong-Il) assumiu depois da morte de Kim Il Sung (pai de Kim Jong-Il), por meio de manobras políticas perfeitamente aceitáveis no jogo democrático.
Além disso, todos os representantes do poder na Coréia socialista são eleitos de forma direta ou indireta. Basicamente o povo elege os parlamentares, membros da Assembléia Popular Suprema, e essa Assembléia elege e supervisiona os principais cargos políticos da nação, entre eles o chefe do Comitê de Defesa Nacional (cargo antes ocupado por Kim Jong-Il), que junto do premier e do próprio presidente da APS, constituem o triunvirato do poder na Coréia socialista.
Dentro até mesmo dos moldes liberais, não há nada que indique qualquer tipo de ausência de liberdade popular por causa da forma de escolha dos dirigentes do país. Boa parte das nações européias, apontadas pela mídia como exemplos de democracia, escolhem seus dirigentes máximos de forma indireta, através de eleições dos orgãos legislativos. Kim Jong-Il e agora Kim Jong-Un, são apenas integrantes (escolhidos pelo povo) da imensa estrutura de poder e ganham toda essa importância por causa da política Songun e do constante estado de guerra imposto pelos países imperialistas à nação socialista. A grande diferença entre as monarquias parlamentares ocidentais (nessas sim, a hereditariedade tem força de acordo com a lei) e o Estado socialista coreano é que no último a democracia é verdadeira, vai além das formalidade e é garantida através das bases populares de trabalhadores e camponeses, alicerces do poder popular.

Os comunistas são os mais interessados em estabelecer um mundo pacífico, mas não renunciaremos à liberdade para que se estabeleça uma falsa paz, baseada na opressão.

Por um mundo comunista, unico capaz de assegurar a paz e a justiça!

Camarada Kim Jong-Il, presente!

Diego Grossi, Historiador, professor e militante marxista-leninista.
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Leia mais sobre a Coreia Socialista aqui

Coréias

Coréias


A Península de Han, ao noroeste da Ásia, esta conformada por um país que se divide politicamente em dois: a República da Coréia (ao sul) e a Republica Popular Democrática da Coréia (ao norte). Ambas fazem fronteira com a Rússia e a China; ao norte, com o mar amarelo ao oeste e o mar do Japão ao leste; ao sudeste e ao sul, limita com o estreito da Coréia que separa a península do Japão.
Os primeiros povoamentos surgiram entre 15 e 12 mil anos atrás;
Esta constituída em um 70% por montanhas, sobretudo nas regiões norte e nordeste.
Os terrenos para a agricultura são escassos e de baixa qualidade, tendo como principais cultivos: arroz, cevada, algodão e chás.
O Clima na Coréia do Norte varia enormemente de acordo à época do ano.
O inverno costuma ser rigoroso. Já na Coréia do Sul, as correntes de calor procedentes do Japão tornam o clima mais suave e ameno, existindo uma diferença media anual de uns 15ºC entre os dois países, uma das maiores diferenças climáticas conhecidas entre países contíguos.
A Coréia do Sul tem uma população de quase 50 milhões de habitantes, enquanto a Coréia do Norte conta com aproximadamente a metade desse número.

Dinastias

Várias dinastias dominaram a Coréia ao longo de sua história. A primeira delas foi fundada por Dagun (considerado o pai da civilização coreana) em 2333 antes da nossa era, conhecida como Gojoseon.
A mais poderosa das dinastias foi a de Joseon fundada por Yi Seong-gye que se manteve de 1392 até 1910.

Invasão Japonesa, guerras Chinês-Japonês e Russo-Japonesa 

Durante os últimos anos do século XVI, a Coréia foi invadida pelo Japão, que arrasou a península, inúmeros tesouros culturais e artefatos foram roubados e destruídos pelos japoneses em seu caminho rumo à invasão da China.
Além disso, muitos artesãos foram seqüestrados e levados ao Japão, onde seriam obrigados a trabalhar e a desenvolver a indústria de cerâmica japonesa.
Com a resistência coreana e a morte de seu líder Toyotomi Hideyoshi, os japoneses se retiraram e a guerra cessou em 1598, deixando enormes perdas humanas e materiais aos coreanos.
A partir de 1868, com a chamada Revolução Meiji começou o desenvolvimento do capitalismo japonês, adotando a política industrial do ocidente e sua inevitável busca de expansão neocolonial, com o objetivo de tornar-se a maior potência do oriente.

Com essa política expansionista tentou abocanhar a Coréia, o que causou tensões com a China pela disputa da península dando inicio em1894 ao conflito conhecido como Guerra Chinês-Japonesa na qual as modernas forças nipônicas derrotaram rapidamente aos chineses tomando o controle da Coréia.
Logo de uma rebelião na China em 1900 Rússia assumiu o controle da Manchúria e a partir dali começou a ingressar ao norte da Coréia. Em 1904, Japão rompeu as relações diplomáticas com Rússia e deu inicio a Guerra Russo-Japonesa que culminou com uma nova vitoria nipônica.
Assinou-se o tratado de paz e a Rússia reconheceu a hegemonia japonesa na península coreana. Japão assumia o controle das relações exteriores da Coréia, bem como suas forças armadas, corpos de segurança, moeda,bancos, comunicações e qualquer outra função de importância. Cinco anos depois, em 1910, Japão anexou formalmente a Coréia.
O período de domínio japonês esteve marcado por uma terrível repressão, medidas absurdas- como a proibição da adoção de sobrenome e do idioma coreano- mudanças na estrutura administrativa e de produção e imposição de costumes. Milhões de coreanos sofriam escassez de alimentos, enquanto toneladas e mais toneladas de arroz eram enviadas ao Japão, e as terras férteis da península eram presenteadas ou vendidas a baixíssimos preços aos produtores japoneses.No dia 1º de março de 1919, ocorreu uma das maiores manifestações nacionalistas da historia coreana. Milhares saíram às ruas para exigir pacificamente a retirada dos japoneses e foram reprimidos. Mais de vinte mil morreram e cinqüenta mil ficaram feridos. Esse episódio fortaleceu o sentimento patriótico dos coreanos, que organizaram uma resistência armada na Manchúria.

Movimentos de libertação, a Segunda Guerra e a derrota japonesa

Na década de 20 e nos anos anteriores à II GM, as lutas pela liberação da pátria coreana, as mobilizações, as greves e as manifestações estudantis (tanto no norte como no sul) se intensificaram. Grupos guerrilheiros, assentados ao norte da península, combatiam com força crescente e se opunham à humilhante posição de colônia japonesa que ostentavam. É importante ter em conta que, para essa época, não existiam duas coréias, era um só país que sofria as mesmas agressões e compartia os mesmos sentimentos de esperança e resistência.
Ao começar a segunda guerra mundial, os coreanos lutaram lado a lado com as tropas chinesas contra os colonialistas japoneses.
Ao finalizar a guerra, a URSS havia entrado com suas tropas na Coréia e podia ter ocupado toda a península, porém, deteve suas forças na linha do paralelo 38 - ponto acordado com Washington para que o exército japonês do sul da península se rendesse frente ao alto mando estadunidense.
Posteriormente a URSS se retirou como havia sido combinado entre as potências, passando o controle do norte da península a Kim Il Sung, dirigente comunista e líder da guerrilha que havia combatido os colonialistas japoneses. Kim Il Sung era um jovem de 18 anos quando ingressou na luta guerrilheira, com 33 anos já era o chefe político e militar dos combatentes; seu desejo era liberar o país do jugo japonês.
No sul, de onde as tropas estadunidenses não se retiraram (até hoje), existia um forte movimento esquerdista bem organizado e alguns grupos de direita na oposição.
Realizaram-se diversas conferencias estadunidense-soviética para a reunificação das coréias, que era esperada por todos os coreanos e a URSS já se havia proclamado a favor da unificação.
O EUA, entretanto eliminou as forças de esquerdas do sul da península e convocou eleições em 1948, da qual saiu vitorioso Syngamn Rhee, fantoche do governo estadunidense, que havia vivido nos EUA e estudado em suas universidades; forçou e dirigiu a criação da Republica da Coréia em agosto desse mesmo ano.
Um mês depois, em setembro de 1948, os combatentes do norte responderam com a fundação da República Democrática Popular da Coréia.
O governo de Syngamn Rhee se caracterizou pela corrupção, forte autoritarismo e repressão, sendo obrigado a renunciar em 1960 pela pressão popular e exilar-se no Havaí onde viveu até os últimos dias da sua vida.

A Guerra das Coréias e o delírio atômico de Mac Arthur

O desejo de reunificação dos coreanos e os fortes protestos contra Syngamn Rhee na Coréia do Sul levaram as tropas norte-coreanas a, no dia 25 de junho de 1950, ultrapassar a linha do paralelo 38 para expulsar as tropas estadunidenses da Coréia do Sul, chegando até Seul onde foram apoiados pela população.
O Conselho de Segurança da ONU se reuniu em ausência do delegado soviético (que naquela ocasião havia se retirado em protesta a que o EUA não aceitasse a China, que acabava de fazer uma revolução socialista, como membro do referido Conselho) e, com essa manobra, o EUA orquestrou a guerra contra Coréia sob o manto das Nações Unidas. Com sua ausência, a URSS ausente naquela reunião não pôde utilizar seu direito ao veto e pediu que a mesma fosse considerada nula, pois não haviam estado presentes todos os membros do Conselho de Segurança mas o EUA argumentou que já se havia tomado a decisão por parte dos presentes violando a própria carta da ONU.
Dois dias depois, o governo dos Estados Unidos consegue, através de pressões, que quase duas dezenas de países (
Austrália, Bélgica, Luxemburgo, Canadá, Colômbia, Etiópia, França, Grã Bretanha, Grécia, Países Baixos, Nova Zelândia, Filipinas, África do Sul, Tailândia e Turquia, com unidades médicas de Dinamarca, Índia e Suécia,) entrassem na guerra apoiando suas forças e enviassem tropas sob o comando do general Mac Arthur.
A propaganda norte americana reza que essa foi uma invasão “defensiva” para restabelecer a fronteira do paralelo 38, quando na verdade foi uma guerra de dominação pois perseguiu aos coreanos até a fronteira com a China buscando eliminar o governo do norte. Porém, a China, que via com extrema preocupação o avanço das tropas norte-americanas sobre suas fronteiras, advertiu em reiteradas ocasiões que, caso os EUA seguisse avançando entraria na guerra e, assim ocorreu.
No dia 26 de novembro uma potente ofensiva chinesa de mais de 400 mil voluntários fez com que as forças norte americanas batessem em retirada, sendo Pyongyang reconquistada pelos coreanos.
O Paralelo 38 foi novamente restabelecido como linha fronteiriça entre as duas coréias.
Durante essa guerra - que causou quatro milhões de baixas (entre mortos e feridos), um dano econômico incalculável - o general norte americano Mac Arthur chegou a pedir que se utilizasse a bomba atômica contra a China e a Coréia.
Em 1951 o delegado soviético na ONU propôs formalmente que as forças beligerantes começassem um acordo de paz. Essas conversações iniciaram em julho de 1951, e em 1953 os países firmaram um armistício, um alto ao fogo, porém a declaração de paz reclamada em reiteradas ocasiões pela Coréia do Norte e negada pelos Estados Unidos nunca foi assinada. Tecnicamente ambos os países ainda estão em guerra e uma prova disso são os 40 mil soldados na Coréia do Sul e 100 mil em toda a zona;
 
Distorções made in USA 

Depois da guerra, a maquinaria de propaganda estadunidense começou a laborar a construção de conceitos e realidades. A Coréia do Norte passou a ser apresentada como uma ditadura, enquanto a Coréia do Sul como um país democrático.
Uma breve olhada nos acontecimentos nos aclaram a situação: o primeiro presidente sul-coreano
Syngman Rhee foi acusado de corrupção, repressão e violência e acabou fugindo do país em 1960; outro presidente, Park Chung Hee, que havia participado da segunda guerra ao lado dos japoneses, chegou ao poder depois de um golpe de estado em 1961, para fazer frente à crescente pressão estudantil que pedia o diálogo e a reunificação com a Coréia do Norte. Liderou um dos governos mais ditatoriais da história sul-coreana, e depois de 18 anos governando com mão de ferro foi assassinado pelo seu próprio chefe de segurança em outubro de 1979.
O Seguinte presidente foi Chun Doo-Hwan quem instaurou a lei marcial em 1980 e iniciou uma cruel repressão que causou milhares de vítimas. Durante seu governo as greves e manifestações eram quase diárias assim como prisões e fraudes eleitorais.
Em outubro de 2008, a agencia de noticias Reuters informou ao mundo que o ministro de defesa sul coreano proibiu seus militares a leitura de “livros esquerdistas”, e que os soldados já não podiam ler nem carregar consigo uma longa lista, dentro da qual se encontram obras do professor da Universidade de Cambridge Chang Ha Joon e do norte americano Noam Chomsky.


Desenvolvimento desigual

A península coreana acabou sendo dividida em duas nações, cada uma com um desenvolvimento econômico, político e social distintos.
O norte do país, como vimos, era habitado por menos da metade da população com que contava o sul, com terras montanhosas e de péssima fertilidade. A guerra também havia deixado suas marcas. Pyongyang, a capital norte-coreana estava completamente destruída, com um número quase incalculável de mortos e feridos, bloqueada e sem alternativas; os países do campo socialista ainda se recuperavam dos danos causados pela 2ª guerra mundial e a China estava se reconstruindo, pois acabava de fazer sua revolução.
Já na parte sul da península desenvolvimento foi diferente.
Contava com a região mais fértil, maior população e havia sofrido menos destruição durante a guerra.
Também a presença das tropas norte-americanas requeria o abastecimento de produtos, alimentos e serviços. Empresas japonesas e norte-americanas se instalaram por toda sul-Coréia, podendo vender ao mundo seus produtos, pois não sofriam o selvagem bloqueio imposto ao norte.
Grandes corporações controladas por grupos familiares surgiram na Coréia do Sul e se consolidaram com as políticas repressivas das ditaduras que se impuseram.
 A Samsung, por exemplo, famosa marca sul-coreana que é vendida por todos os cantos do mundo atualmente, que detém desde fábricas até times de futebol profissionais, foi beneficiada quando o ditador Park Chung Hee proibiu a venda de produtos eletrônicos estrangeiros, protegendo assim as empresas da competição e do livre mercado tão apontados como “responsáveis” do desenvolvimento da Coréia do Sul.
Com o dinheiro acumulado e os empréstimos de outros países Samsung na década de 70, começou a incursionar nos meios de comunicações, lançando uma emissora de rádio e de televisão, o que contribuiu para o surgimento de uma imprensa dominada oligopólios conservadores reprodutores de notícias oficiosas.
Em maio do ano passado, mais de 50 mil sul-coreanos se manifestaram pacificamente pedindo democracia sendo ignorados pelas principais agências informativas da Coréia do Sul, que noticiaram a magna manifestação como um “distúrbio causado por poucas pessoas” e tampouco reportaram a violência com que os manifestantes (sobretudo estudantes) foram reprimidos.

Fim da URSS e a crise alimentar

Ainda assim, o padrão de vida dos norte-coreanos era maior que o dos sul-coreanos até a década de 80, mas esse quadro se inverteu quando a URSS desapareceu e com ela todo o tecido econômico desenvolvido pela Coréia do Norte. Durante os anos em que viu seus sócios comerciais desaparecerem, os norte-coreanos também sofreram com grandes catástrofes naturais. Terríveis inundações em 1995 e 1996 destruíram grande parte de sua infra-estrutura agrícola, e em 1997, atravessaram uma difícil época de secas. Isso levou o país a uma grave crise alimentícia e o obrigou a pedir assistência internacional. Essa situação ainda não esta resolvida.

As tensões geradas pelos EUA

Durante a administração de Bill Clinton as tensões entre os dois países chegaram ao auge, quando o governo estadunidense esteve a ponto de lançar um ataque nuclear controlado contra a Coréia do Norte, devido ao desenvolvimento de um programa nuclear para a obtenção de energia iniciado por esse país. Mas uma comissão presidida por Jimmy Carter acalmou os ânimos. Em 1994, a representante dos EUA na ONU, Madeleine Albright, chega a um concerto com a Coréia.
Era a firma de um acordo baseado na suspensão do programa nuclear de Pyongyang em troca de meio milhão de toneladas de petróleo por ano, assim como ajuda na construção de dois reatores nucleares de água ligeira para substituir os de fabricação soviética. O EUA se comprometia segundo o acordo a não atacar nem utilizar armas nucleares contra Coréia.
Mas esse acordo firmado em Genebra não foi cumprido pelo EUA, este não subministrou o petróleo, congelou as relações com a Coréia e desdisse as afirmações de que não atacaria esse país.
Anos depois, altos dirigentes do Pentágono reconheceram que esperavam com essas medidas o desmoronamento do governo norte-coreano.
Os norte-coreanos voltaram a impulsar seu programa nuclear que era até então para uso civil.

A Doutrina Bush

A chegada de Bush à casa branca e o lançamento da doutrina de que os EUA se reservam o direito de atacar de forma preventiva e com qualquer tipo de armas a qualquer “escuro rincão do planeta terra”, colocou a mais de 60 países - entre eles a Coréia do Norte – em estado de alerta.
Frente a essa nova agressividade imperial Pyongyang se retira do Tratado de Não Proliferação Nuclear, e apesar de controvertida a medida estava dentro da lógica defensiva do país (tecnicamente ainda em guerra) que havia sido ameaçado de ser atacado com qualquer tipo de arma sem aviso prévio. Era janeiro de 2003 e o EUA já havia invadido Afeganistão e se preparava para fazer o mesmo com o Iraque.
Justamente no dia em que as tropas norte-americanas entravam em Bagdá, John Bolton, secretário de estado norte americano afirmava aos meios internacionais de comunicação que “o fim da Coréia do Norte é nossa política”.  
O Tratado de Não Proliferação Nuclear havia sido firmado em 1968, reconhecia como potências nucleares aos países que já haviam realizado testes nucleares, URSS, EUA, China, Grã Bretanha e França, estabelecia que o resto do mundo renunciasse possuir no futuro armas nucleares e que essas cinco potências nucleares se comprometiam a diminuir paulatinamente seus arsenais, o que de fato nunca ocorreu como o acordado.
Em 1972 outro tratado havia sido firmado, dessa vez para limitar os mísseis anti-balísticos (Tratado ABM), mas os delírios beligerantes levaram a que o governo de George W. Bush se retirasse desse compromisso, como havia feito com o Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Em dezembro de 1996, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou o Tratado Global da Proibição de Provas Nucleares, ratificado por apenas duas das potências nucleares: Grã Bretanha e França.
Porém EUA rechaçou os acordos no dia 14 de outubro de 1999 e não ratificou o tratado.
A propaganda dos EUA novamente funcionava à perfeição ao apontar a um pequeno país como violador de tratados quando ele já havia violado os que haviam firmado sobre esse tema e ao apresentado pela ONU nem sequer chegou a ratificar.
Outros tratados violados pelos EUA foram os acordos START-2 que forçavam a re4irada das ogivas nucleares presentes em submarinos norte-americano em águas sul-coreanas, porém dois anos depois, o EUA voltaram a introduzir armamento atômico nesses submarinos.   
Nos primeiros dias de fevereiro de 2003 Washington moveu cerca de 24 bombardeiros perto da Coréia do Norte, e Nicholas Kristof, prêmio Pulitzer, com fontes do departamento de defesa norte americano divulgou no The New York Times que o pentágono planejava atacar os reatores norte-coreanos projetando inclusive o uso de armas nucleares.
No começo de março, um avião de espionagem norte americano foi interceptado sobrevoando os céus norte-coreanos. O clima só se amenizou quando o governo chinês conseguiu o reinicio das conversas entre o EUA e a Coréia do Norte, que insistia novamente em assinar um pacto de não agressão com o governo norte americano, mas Bush recusou.
Em fevereiro de 2003,
Roh Moo-hyun, candidato visto com maus olhos pelo EUA por ser partidário de normalizar as relações entre as duas coréias, foi eleito presidente da Coréia do Sul.
Nessa época, a CIA afirmava que Coréia do Norte possuía mísseis capazes de levar carga nucleares até os EUA, e Bush assegurava que com a Coréia “deixa aberta todas as opções”.

Rússia e China fazem uma declaração conjunta na qual pedem a Washington que volte à mesa de conversações e que busque uma solução diplomática para os conflitos.
Delegações da Coréia do Norte e dos EUA vão a Pequim negociar em uma mesa multilateral envolvendo as duas coréias, China, Rússia, EUA e Japão.

As campanhas de confusão e os ataques mediáticos à Coréia do Norte seguiram. O EUA dizia, entre tantas calúnias, que a Coréia pretendia vender armas nucleares a Al Qaeda.
Colin Powell se declara a favor de “estrangular economicamente a Coréia” o que entra em contradição com sua suposta preocupação com a fome norte-coreana.
Nessa mesma época, Bush afirma que Coréia do Norte forma parte do Eixo do Mal junto com o Irã e Iraque.
Com a reeleição de Bush, Condoleezza Rice substitui a Colin Powell e, em clara alusão a Coréia do Norte, ameaça (inspirada na doutrina Bush) que “É necessário acabar com as tiranias”.
Devido às hostilidades norte-americanas, Coréia do Norte anuncia que não continuará negociando.
Em fevereiro de 2005, Coréia do Norte afirma haver fabricado armas nucleares para a sua defesa, e o próprio presidente sul coreano disse que tinham “algo de razão”, ao afirmarem que necessitavam as armas nucleares para defender-se.
Durante todas as rodadas de negociação e em todas as declarações das partes envolvidas, o único país que ameaçava utilizar armas atômicas para atacar e que se reservava o direito de destruir a outro país era os EUA.
Os demais países apostavam na via diplomática para resolver o problema e sustentavam a idéia de que o EUA devia assinar um tratado de não agressão; o qual novamente foi rechaçado pelo governo Bush.

Os interesses norte americanos por uma guerra com a Coréia do Norte

A guerra é uma condição sine qua non do capitalismo, e o EUA como cabeça do sistema capitalista mundial é a ponta da lança para os ataques, invasões, golpes de estado e atentados contra governos e líderes por todo o mundo.
A lista de intervenções e guerras é quase interminável.
Diversos são os interesses em uma guerra com a Coréia, as analises de todas ultrapassaria o objetivo dessas linhas, porém algumas se destacam: o controle do território norte coreano, daria então fronteiras com Rússia e China assim Washington poderia manter um controle muito mais próximo e imediato;
Controle econômico, posto que nos últimos anos se encontraram grandes bolsas de petróleo no subsolo de várias zonas do país; silenciaria as vozes na Coréia do Sul que pedem o retiro das tropas norte americanas, forçando governos da zona a manterem seus acordos com os EUA (lembre-se que em 2003 havia começado negociações a fim de diminuir as tropas norte americanas de 37 mil para 25 mil); evita a normalização política e o desgelo da península (que sempre foi o desejo dos coreanos tanto do norte como do sul); e impede que petróleo russo chegue a Japão e a Coréia do Sul através do território norte coreano.


O caminho racional: destruir todas as armas nucleares 

No dia 16 de Julho de 1945 a primeira bomba atômica do mundo foi testada, pelo governo dos EUA em Almagordo, Novo México.
Havia sido um êxito. A onda de choque e calor da bomba de fogo destruía tudo ao redor, o cogumelo radiativo podia estender a destruição a mais algumas dezenas de quilômetros e por fim os efeitos atmosféricos se encarregariam de espalhar os resíduos radioativos também conhecidos como átomos da morte.
O governo norte americano como forma de alertar aos soviéticos e ao mundo de que já tinham tecnologia superior a deles utilizou a bomba contra Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945. Essa abominável ação tirou a vida de mais de 100 civis japoneses em frações de segundos.
Três dias depois, a covardia norte americana voltou a repetir-se agora na cidade de Nagasaki, que receberia o impacto da devastadora bomba atômica, a cifra de mortos chegou à casa dos 200 mil a causa desses dois ataques, sem contar nos milhares de mortes posteriores e nos relatos de que até hoje - mais de meio século depois - a população ainda sofre com os efeitos radioativos.
Os Japoneses que já estavam a ponto de renderem-se foram utilizados como cobaias de um horrível experimento. As cidades de Hiroshima e Nagasaki não foram escolhidas ao azar, eram as cidades mais desenvolvidas do Japão e a destruição delas responderia também ao fator econômico, pois causaria décadas de retrocesso ao país oriental e aumentaria a sua dependência aos EUA.
Mais recentemente, os meios de comunicações imperiais não fizeram eco das acusações apresentadas por Jim Brown, veterano do exercito norte americano que denunciou o uso por parte dos estadunidenses de uma bomba atômica de 5 quilotons de potências durante a primeira guerra do golfo em 1991(a Hiroshima era de 16 e a de Nagasaki de 22).
Essa seria a terceira ocasião em que se utiliza armamento atômico em uma guerra.
Porém o EUA tem estado ameaçando utilizar armas atômicas há muito tempo e contra diversos países, em 1993, Clinton ameaçou lançar um “ataque nuclear controlado” sobre a Coréia do Norte. Bush por sua vez advertiu que estava disposto a utilizar armas atômicas na sua invasão ao Iraque em 2003; relembremos: o próprio Mac Arthur havia pedido a utilização de armamento nuclear contra a China e a Coréia do Norte.
Mas é com Bush que a irracionalidade chega ao limite. esse governo decide incorporar a sua política bélica a possibilidade de “pequenos ataques atômicos” sem previa declaração de guerra. Deixando aberto, como já vimos, “qualquer possibilidade contra qualquer país”. 
A doutrina nuclear norte americana apresentada em Nuclear Posture Review de 1994, admitiu que não há perigo algum de que o EUA seja atacado por qualquer das potências atômicas. Pese a isso são os maiores fabricantes da bomba, mantêm um arsenal capaz de destruir todo o planeta terra dezenas de vezes como se uma única vez já não fosse o suficiente.
Não pensam em diminuir suas reservas atômicas, quase nunca ratificam tratados e aos que ratificaram simplesmente abandonam conforme a conjuntura e seus interesses.
Em junho de 2004, Edward Kennedy, irmão do ex-presidente John Kennedy apresentou uma proposta ao congresso dos EUA para limitar a fabricação de bombas nucleares táticas, mas o senado estadunidense rechaçou sua proposta.  
O EUA, uma superpotência que não corre risco algum de ser atacada, segundo seus próprios militares, foi o único país do mundo que utilizou armas atômicas ao longo da história, e ainda por cima contra civis. É o país que converteu a Israel, seu maior aliado no oriente médio, em um estado nuclear e se recusa a ratificar os tratados de não proliferação de armas atômicas. Ambas são as única potências nucleares que ameaçam diretamente outros países com a possibilidade de ataques atômicos. O EUA possui, além do mais, tropas, frotas e bases militares ao redor do mundo todo, e controla a imensa maioria dos satélites com os quais espiona e pode lançar ataques milimétricos; é o país que mais detém armamento nuclear e o que mais fabrica novos armamentos. É também a potência que se da o direito de bloquear a outras nações privando-as de acesso a recursos básicos para sua sobrevivência.


Essa mesma potência é a que deseja impedir que países como Irã desenvolvam um projeto para obtenção de energia atômica, sem fins militares. É a potencia que só nos últimos 8 anos invadiu a dois países e se prepara para atacar a outros.
País que apesar dos câmbios de chefes de estado não altera em nada suas políticas bélicas.
Acaso é esse país a policia do mundo? Alguém o elegeu para isso?
Certamente é o país com menor autoridade moral para essa tarefa.
Quando as informações provenientes de seus meios de comunicação dizem: “o mundo esta em alerta contra a Coréia” querem na realidade dizer: “A Casa Branca esta em alerta contra a Coréia”.
Uma breve olhada nos fatos é suficiente para ver surgir uma verdade oculta pela propaganda imperial. Não é a Coréia do Norte que possui submarinos dotados de armamento nuclear em águas próximas do EUA, nem foram os norte-coreanos que atacaram ou dividiram em dois aos Estados Unidos.
É o EUA que se nega a assinar um tratado de não agressão.
Os secretários norte-coreanos não enviam recados ameaçadores através da imprensa como o fizeram John Bolton (“o fim da Coréia do Norte é nossa política”) Condoleezza Rice (“destruiremos as tiranias”) ou Colin Powell (“me inclino pela estrangulação econômica da Coréia); Kim Jong-Il nunca teorizou sobre os “ataques preventivos” como Bush.
O fim das armas nucleares é essencial para a paz no mundo. As saídas diplomáticas, o respeito mútuo, as mesas de discussões são sempre mais frutíferos que o campo de batalha.
A força bruta não pode reger as políticas desse novo século, nem devem existir espaços para o domínio de uma potência sobre as demais nações do planeta terra. Do governo dos EUA deve partir a eliminação de suas armas, pois é o país que mais as possui,deles também deve partir o ânimo para dialogar, pois são os que sempre se negaram em dialogar.
Do governo dos EUA deve cessar os ataques e ameaças contra todos os países do mundo, por menores que sejam, pois são os que mais tem atacado e ameaçado,não somente senão países espalhados por todas as regiões do globo.
Do governo dos EUA deve partir o exemplo de mudança pois são os que mais necessitam mudar, como é o desejo do povo estadunidense , quando votaram pelo lema prometido por Obama: “Change”.
Enquanto a mentira, a força bruta e a dupla moral reinarem será hipocrisia pedir o desarme nuclear de Coréia do Norte.

Espionagem, ameaças e...

Enquanto isso, os fatos continuam acelerando-se. Assim que a Coréia realizou seus mais recentes ensaios nucleares, o secretario de defesa norte americano afirmou que os EUA não deixariam barato.
“A vigilância sobre a Coréia do Norte será aumentada” declarou o porta voz do ministério de defesa sul-coreano. O EUA declarou através de sua secretaria de estado Hillary Clinton que “defenderão a Coréia do Sul”;
Os meios de comunicação distorceram as declarações da Coréia do Norte e noticiam que esse país “ameaçou atacar a Coréia do Sul”, quando o que o ministério norte coreano fez foi alertar que utilizará suas armas no caso de que seja atacado primeiro(ver comunicado integro da RPDC).
Rússia e China pedem que se retomem as negociações , as quais vêem como “única maneira de resolver a crise”.
Coréia do Norte denuncia que o governo de Obama continua dirigindo transmissões de radio provocativas ao país em busca de desestabilização.
Forças navais sul-coreanas enviaram um navio com mísseis teleguiados para a fronteira marítima com Coréia do Norte, segundo Seul, os mísseis tem um alcance de até 140 quilômetros de distância.
A Agência de notícias norte-coreana KCNA, divulgou que somente no mês de abril EUA e Coréia do Sul cometeram 170 atos de espionagem e que o número subiu em maio para 200, sendo realizados 110 vôos  norte-americanos sobre o território da Coréia.
O EUA aumentará suas tropas e aviões na fronteira entre as Coréias, e o mundo testemunhará o desfecho.


Marcus Dutra Zuanazzi, brasileiro, médico formado na Escola Latino Americana de Medicina. - 2008

Sobre a Política na Coreia

(Foto da Assembleia Popular Suprema, órgão supremo do Estado norte-coreano, tirada de minha própria camêra mal-configurada, sem foco)

Tendo viajado para a República Popular Democrática da Coreia, a Coreia do Norte(abril/2011), as pessoas sempre fazem perguntas sobre este peculiar país que visitei e sempre estudei(e estudo) muito material a respeito. Decidi escrever alguns textos com base nas perguntas mais frequentes e nesse caso vou abordar os problemas relacionados a política, ao Estado norte-coreano, usando de algumas discussões que tenho registradas e abordando tudo de uma forma mais geral. Vale observar que no texto falo mais nos tons do positivismo, não do marxismo.



"O que você acha do regime norte-coreano? E do regime da Coreia do Sul? Você apoia a ditadura?"

A pergunta, no final, está carregada de ideologia. Ambos os regimes se consideram os defensores da democracia frente a um regime ditatorial. Os dois estão submetidos a rigidez de uma guerra, a Coreia do Sul em menor escala(presença militar norte-americana, ambiente internacional favorável), e mesmo sendo uma democracia liberal possui uma legislação de segurança nacional extremamente rigida, o Partido Comunista é proibido assim como protestos "vermelhos"(inclua aqui greves e manifestações pro-reunificação). Na Coreia do Sul, a "Coreia democrática", existe um Partido único, no sentido de monolitismo ideológico, hegemonia e conservação do sistema - a mídia e os partidos podem discordar entre sí questões secundárias, mas o sistema é intocável.

Na Coreia do Sul os partidos lançam candidatos a nível distrital e depois estes vão votar em nome do povo nos outros níveis. A forma é realmente "democrática e republicana", mas enquanto o norte surgiu de uma luta popular, o sul surgiu de uma invasão estrangeira, da supressão dos comitês populares e das guerrilhas de resistência. No norte da península o povo não está reduzido a "opções" de meia dúzia de partidos, qualquer um pode ser candidato com a indicação dos seus de seus concidadãos. A afirmação de Caio Prado Júnior de que no "Mundo Socialista" a escolha dos candidatos é a parte mais importante de uma eleição e a votação somente uma ratificação dos mesmos é válida para a República Popular Democrática da Coreia. Além disso, no ambiente de trabalho existem os comitês de trabalhadores que deliberam sobre as mais diversas questões, cuidando de toda a gestão da fábrica/cooperativa. A sociedade, através das organizações populares, assume diversas funções estatais, desde policiamento à brigadas de construção - inclusive existe um texto de uma conversa de Kim Il Sung com o Politburo do Partido em que ele fala de certos comitês populares criando hospitais, por exemplo, e não sabendo administrar. A reunião constante das assembleias e o agrupamento da sociedade civil em diversas organizações torna o debate e a política coisas muito comuns na vida de um habitante da RPDC, enquanto no sul a "cidadania" consiste em votar e pessoas se vêem desumanizadas por um ambiente econômico selvagem. Além do mais, na Coreia do Sul a o sistema funciona por grupos de eleitores, grupos frágeis e passageiros sem uma vontade única de fato, enquanto na Coreia do Norte a força política se concentra em organizações de grupos sociais solidamente estabelecidos, com interesses claros e não "coincidências eleitorais".

As organizações de massa, na Coreia do Norte, suprimem manifestações puramente individuais assim como direcionam as coletivas - eis o segredo da estabilidade norte-coreana. Isso é muito mais eficiente do que uma Lei de Segurança Nacional. Enquanto no sul eles precisam entrar em contradição com o discurso liberal através da repressão nua e crua, como em vários casos de greves e manifestações populares, no norte isso simplesmente não existe - uns chamam isso de "enquadramento", eu chamo de organização. Enquadramento é o que a polícia sul-coreana faz com os movimentos populares de seu país. Veja bem, do ponto vista liberal tanto a Coreia do Norte quanto os governos que vigoraram no sul até 1980 são governos "autoritários", "ditatoriais" e "opressivos"(num sentido estrito, proibitivo mesmo). Opressão gera resistência, o que de fato ocorreu na Coreia do Sul de forma muito clara, onde houveram grandes confrontos entre o povo e o governo - não importa se eram movimentos controlados pelos comunistas do norte ou não, o fato é que existiram de forma ampla. O caso mais claro é a "Comuna de París" asiática que foi Gwangju, a sexta maior cidade sul coreana. Muitos falam de meia dúzia de estudantes que se rebelaram em Pequim(capital de um país onde a maior parte da população vivia no campo), o "Massacre de Tiananmen", mas não falam da sublevação de uma cidade inteira e o massacre que ocorreu depois dessa insurreição, em 1980, o Massacre de Gwanju. Isso para não falar das "Jornadas de Abril" em 1960. Agora em 2009 houve uma grande greve dos trabalhadores da Ssangyong Motors, esta que foi não foi reprimida com a tropa de choque e sim com comandos invadindo a fábrica através de helicópteros. Acredito que a Coreia do Sul tenha a melhor tropa anti-distúrbio do mundo ou pelo menos a mais experiente.

Nada sequer parecido com isso ocorreu no norte da península, quando o povo se mobilizou foi para apoiar o governo, não para derruba-lo. Até os anos '70 a parte norte era mais desenvolvida, mas até ai tivemos uma dura crise acompanhada por fome no fim dos anos '90 e mesmo assim não houve um ensaio de rebelião na República Popular, onde a polícia, aliás, anda desarmada. O regime é hegemônico, a sua ideologia está penetrada nas mentes da sociedade. O ocidente pode achar o que quiser, chamar isso de "alienação" e "lavagem cerebral" enquanto se envenenam com publicidade desde que não decida "democratizar" o norte com seus bombardeios como fazem com a Líbia e já fizeram com a Coreia no passado.

O problema é que a midia inventa e exagera muito. Esses dias li numa agência de noticias sobre a Coreia que eles haviam criado ano passado um policia anti-disturbio, ora, coisa que a Coreia do Sul já tem faz tempo.


(manifestantes sul coreanos contra a polícia)
"Mas Kim Jong Il não é um ditador? Alguns dizem que o regime é monárquico argumentando que Kim Jong Il herdou o poder do pai."

A Coreia do Norte é uma sociedade governada pela força da lei que nasce do principio de soberania de povo. É uma sociedade governada pelo direito - civil e político - e onde os cargos de comando são todos delegados através da soberania popular e não da soberania individual. Kim Jong Il não ocupa nenhuma posição acima do resto do Estado. Kim Jong Il é Presidente da Comissão de Defesa Nacional, cargo indicado pela Assembleia Popular Suprema(eleita por voto popular) e que faz parte do triunvirato fundamental que forma o poder executivo, antes concentrado no cargo de Presidente ocupado por Kim Il Sung, o pai de Kim Jong Il. Todos os poderes dele são estipulados pela Constituição e são amplos devido a situação de guerra - relações internacionais, infraestrutura e até questões culturais passam pelo setor de defesa. Se ele dispõe de outro tipo de influência ou auctoritas, seja por carisma, tradição ou experiência, é outro assunto, ditador é quem não tem limitações legais ao seu poder, que é legislador, juíz e executor ao mesmo tempo. Se de alguma forma a lei não está sendo cumprida isso compete as autoridades e ao povo norte-coreano.


(A Delegação Brasileira convidada pela Associação Coreana de Cientistas Sociais, eu incluso, junto de Choi Il Min, sul-coreano que foi perseguido na Coreia do Sul por ser líder da Frente Democrática Antiimperialista, chegou a ser preso porém se exiliou na RPDC)

"E o culto à personalidade? Kim Il Sung, o líder, é um tratado como um deus pelo Estado? E Kim Jong Il? O cristianismo é perseguido?"

O "culto à personalidade" existe, porém mais a Kim Il Sung. Você não vê muita coisa do Kim Jong Il; estátua nem pensar. Quando falamos de "culto à personalidade" na Coreia do Norte temos que ter em conta duas coisas: o processo histórico - não estamos falando do Michael Jackson e sim de um homem que liderou uma Revolução, lutou contra dois invasores estrangeiros e dirigiu a reconstrução do país - e a cultura norte coreana. E claro, Kim Il Sung morreu só em 1994, é recente. De forma alguma existe um "elemento religioso" no "culto". Kim Il Sung é tratado como um homem, sim, um grande homem, porém como um homem. Falam dele com respeito, mas nada de "não usarás o nome de Deus em vão", não ficam necessariamente graves ao falar dele - apesar que se emocionam ao ver algo relacionado a morte do líder. Quanto a Kim Jong Il, falam do "camarada" tranquilamente como se fosse um vizinho.Mas é claro que existem exageros e é óbvio que uma criação e uma educação sempre voltada para o "Grande Líder" tem seus efeitos óbvios relativos a confiança da massa no sistema.

A tradição é uma coisa muito presente na Coreia do Norte, visto que não houve a penetração estrangeira que ocorreu no sul. Aliás, o Estado no sul da península foi criado nos padrões Estado democrático-burguês do ocidente que é incompatível com esse tipo de coisa. Diria que só é apropiado falar de civilização coreana(tradição, costumes, xamanismo, budismo, daoismo e confucionismo coreanos) no norte da península pois o espírito predominante do sul é o do protestantismo - estou falando não de religião propiamente dita e sim de cultura e ética. O Estado norte-coreano tem um papel importante na preservação dessa cultura, desse pedaço da pluralidade humana.




Existem alguns videos e "denúncias" simplesmente ridiculas sobre a "perseguição religiosa" no norte da península. Falam de "mártires"(sem nome) que são obrigados a renegar a Jesus Cristo e acabam sendo esmagados publicamente por tratores e outras bizarrices obviamente sem apresentar uma vírgula de provas. Puro sensacionalismo, os vídeos são até engraçados porque colocam umas imagens de uns filmes trash orientais, estilo Bruxa de Blair. De qualquer forma, segundo dados do governo norte-coreano cerca de 2% da população é cristã(NÃO SÃO EXCLUÍDOS DO SENSO!!!), mas não me impressionaria de descobrir um estranhamento e até uma hostilidade a tal "seita". Temos que contextualizar as coisas, quando falamos de cristianismo no ocidente estamos falando de um dos pilares da nossa civilização(isso é uma constatação, não uma apologia), mas quando falamos de cristianismo na Coreia do Norte estamos falando de uma seita alheia a cultura coreana e que ainda por cima é a "religião dos imperialistas". Para nós é normal lidar com as partes mais brutais da Bíblia, para eles provavelmente muita coisa é repulsiva, isso para não falar "sem sentido" já que lá a ciência chegou na frente do cristianismo. E eles não são ignorantes quanto as inquisições, as perseguições, as guerras e o comportamento especial dos jesuítas colonizadores da América Latina. Não obstante ainda existe a perseguição religiosa CRISTÃ no sul da Península. Syngman Ree, o primeiro chefe do Estado títere da Coreia do Sul, lançou um campanha de perseguição aos budistas, enquanto o Park Chung Hee tentou juntar todos mecanicamente numa federação. No começo dos anos '90 havia um conflito entre os budistas e o governo junto dos cristãos, o que levou governo a acusar o budismo de "propagar a imoralidade" e incentivando missionários cristãos estrangeiros. Em alguns casos houve violência, inclusive a vandalização de estátuas de Buda e do Rei Dangun("fundador" da Coreia). Houveram templos queimados, budas decapitados e budistas sendo atacados em universidades para se converterem a Cristo. O triunfo de Lee Myung Bak é visto como um triunfo dos cristãos, visto que houve um expurgo de budistas substituidos por cristãos. Existe literalmente um combate às tradições coreanas e o termo cruzada não é inadequado, sendo que somente cerca de 30% da população sul-coreana é cristã. A submissão não é só econômica, não é só através de Tratado de Livre Comércio, é cultural.

Acho interessante como se preocupam com "os cristãos coreanos" porém ignoram questões bem mais amplas como os problemas dos ateus nos Estados Unidos ou dos mulçumanos neste país e na Europa.


(Budistas sul-coreanos fazem oração coletiva em frente da Prefeitura de Seul como forma de protesto)





"Como você vê a estabilidade do Estado coreano?"


Patria est communis omnium parens.


Não existe tradição libera na Coreia, nem tradição soviética e a Revolução foi uma de caráter militar(guerrilha) e que teve que sobreviver a duras condições de cerco(pensem nas consequências políticas disso).Todos são educados num espírito cívico que consiste primordialmente em lealdade ao líder, não em principios políticos, não em consciência de classe, mas lealdade ao líder, que é tratado não como "pessoa divina"(como na monarquia) mas como representação orgânica de todo o povo, o cerébro do povo. Aprendem amar ao povo, a pátria e o líder, como uma coisa só. São sem dúvidas educados como cidadãos de uma República. Mas claro que existe a paixão(no sentido de Montesquieu) do medo, digo, aquele sentimento de que nada de bom espera os que forem contra a corrente, dos que não estiverem com o líder(afinal esses não estão com o povo, seguindo a lógica anterior). "Democracia para as massas populares, ditadura sob os individuos contrarrevolucionários." Não tô falando que vão morrer por não levar o culto muito a sério, nem que vão ser presos. Vou tentar ser mais ilustrativo. Tem uma história ai de que determinados tipos de roupa são proibidos, não é bem isso. O que aconteceria, nesse caso, se é que realmente determinados tipo de roupas não são aceitas, é que a pessoa seria parada por algum guarda que ia pegar seus documentos e passar pra um comitê popular que trataria do seu caso fazendo uma "crítica" ao seu comportamento. Reuniões de crítica e auto-crítica também são constantes, o que não cria necessariamente um clima de debate mas sim de disciplina. Existe a participação nas assembleias populares, mais um fator de estabilidade(já que se trata de participação política), mas creio que existem limites subentendidos nas reuniões das mesmas. Coisas como o culto ao líder se tornaram praticamente elementos naturais da comunidade, ir contra taís coisas é se desviar do grupo e humanos não gostam de se separar dos seus grupos, e a vida coletiva na RPDC é muito mais forte que na maioria dos países(como já falei das reuniões de crítica/auto-crítica, etc). As pessoas só assumem comportamentos "marginais", distinto do grupo, quando podem se desligar do grupo. No mais, aqui temos "a virtude e o terror" sustentando a República, aliás, eu não hesitaria em dizer que a RPDC é um tipo de ideal repúblicano à Rousseau, Montesquieu e outros clássicos(a democracia das formigas de Voltaire, etc). São livres até o ponto que não são obrigados a nada.

"Deve-se observar que o quechamo de virtude na república é o amor à patria, ou seja, o amor à igualdade. Não é uma virtude moral, nem uma virtude cristã, é a virtude política; e este é o motor que move o governo republicano, como a honra é o motor que move a monarquia. Logo, chamei de virtude política o amor à patria e à igualdade. (...)Se eu pudesse fazer com que todos tivessem novas razões para amarem seus deveres, seupríncipe, sua pátria, suas leis, com que pudessem sentir melhor sua felicidade em cadapaís, em cada governo, em cada cargo que ocupam, considerar-me-ia o mais feliz dos mortais."
(Montesquieu, "O Espírito das Leis")

No mais é óbvio que tem o fator material; a capacidade de alimentar o povo é fundamental. E a Coreia tem todos os problemas de um país isolado e em situação de guerra - a centralização e autoritarismo são exemplos de problemas políticos. A burocracia pode ser parasitária(não tenho informações quanto a formação de uma nomenklatura como a da URSS na década de '60), deve ter seus quadros de corrupção e apesar de não ser uma classe tem o seu papel em possíveis mudanças. O problema da energia é outro problema econômico que pode vir a adquirir relevância politica. Um famoso exiliado da rádio "Free Korea" teria dito que "a questão da energia já demonstra a superioridade do sul", lógica simplista de força esplendida. Os bens de consumo produzidos no sul também devem ser impressionantes para o norte, assim como o boom econômico de uma forma geral. É claro que certas condições são o que determinam essa situação, a Coreia do Sul conta a segurança internacional e teve pesados investimentos norte-americanos e japoneses por causa da Guerra Fria. Mas propaganda não lida com racionalidade, as massas não conseguem raciocinar até esse ponto e são facilmente seduzidas por promessas de conforto material, ainda mais num contexto de escassez. Até ai o mercado negro tem suprido muitas necessidades materiais no norte, e creio que o governo não o reprimirá na medida que isso acirraria os animos.


"A RPDC não é um Estado agressivo?"

Muito pelo contrário. Agressivo é o imperialismo norte-americano que mantém suas bases no sul da península, violando o Tratado de Armísticio da Guerra da Coreia. Lembrando que os maiores possuidores de armas nucleares no mundo são os EUA e até hoje somente eles usaram o poder destas armas. A RPDC é um Estado soberano e tem o direito de desenvolver sua força militar, ou melhor, tem o dever na situação de ameaça na qual ela se encontra. Vale constar também que quem propõe uma reunificação pacífica num sistema de CONFEDERAÇÃO é a Coreia do Norte e não a Coreia do Sul que pretende suprimir a República Popular.

"Qual é a sua posição acerca da Coreia do Norte?"

A Coreia do Norte representa um foco de resistência numa ordem mundial hegemônica onde alguns proprietários de bancos e coporações enriquecem e os povos, especialmente do Terceiro Mundo, se deparam com o empobrecimento. A Coreia do Norte é um contra-peso numa ordem mundial já muito desequilibrada desde 1991, representando um exemplo de independência entre os povos. A Coreia do Norte representa uma alternativa de sociedade planificada frente ao caos da ditadura do mercado. Por isso, em defesa da soberania dos povos do mundo, eu apoio a República Popular Democrática da Coreia frente os agressores externos e o Estado títere sul-coreano.

Entendendo a Coreia do Norte

A minha viagem e meus estudos sobre a República Popular Democrática da Coreia(Coreia do Norte) praticamente me forçam a escrever sobre este país. Fiz este singelo texto tendo como base algumas discussões com amigos e objetivando fomentar o debate sobre as relações sociais que predominam na Coreia do Norte, além de desmistificar algumas questões correntes. A análise é feita do ponto de vista do materialismo histórico. Os problemas lançados serão abordados com maior profundidade em outros textos. As fotos foram tiradas por mim mesmo.

Muitos dizem que os sistema coreano fracassou, estagnou e que o sul-coreano é um sucesso. O que você tem a dizer sobre isso?

Bom, em Seul temos favelas, em Pyongyang não. Critérios variáveis, conclusões variáveis. Vamos avaliar as formas de desenvolvimento da península coreana.A Revolução Coreana foi uma Revolução Nacional-Libertadora(e não socialista), com a participação da burguesia nacional, porém essa burguesia nacional era frágil demais para conduzir uma industrialização, e daí surgem duas opções: ou um desenvolvimento completamente dependente ou um desenvolvimento guiado pelo Estado. A RPDC seguiu o segundo caminho, ao passo que a Coreia do Sul seguiu o primeiro(aliás, ela teve uma explosão de desenvolvimento em '80 através de medidas protecionistas e a ascensão de grandes conglomerados estatais). A RPDC se industrializou através de planos, o Estado assumiu o papel que a burguesia nacional devria ter assumido(industrializante), mas nem por isso a burguesia remanescente foi expropriada - é muito importante saber disso, pois isso a torna completamente diferente da experiência da URSS de Stálin que alguns costumam estabelecer comparação. Segundo Kim Il Sung, esses burgueses se tornam "trabalhadores socialistas" ao associar-se à cooperativas(de produção, de vendas, investimentos, produção-vendas - situação em que muitas vezes eles acabam se sobressaindo em relação a membros menos abastados das cooperativas). E recentemente apareceu um novo setor do comércio que é formado por aqueles que vão a China(e outros países) e de lá trazem bens de consumo, inclusive muitos quadros do Partido que viajam muito ao exterior estão se tornando "grandes comerciantes" e dos inspetores que deveriam reprimi-los muitos se tornam parte do negócio, já que o suborno não é incomum(a situação é tão complicada que inspeções especiais, em regiões especificas, tem sido feitas diretamente em nome do "Centro do Partido" e uma delas com sob as intruções de Kim Jong Un, ou seja, existe uma contradição no seio do poder já que isso coloca o status quo em risco apesar de sair de dentro dele). Não só quadros do Partido, mas principalmente funcionários do Estado e do Exército - algumas fontes afirmam que casualmente eles são realocados pelo próprio Estado para trabalhar no mercado(nota: burocracia adquirindo caráter social definido, entrando efetivamente na produção de capital, e se tornando "coveira do socialismo"?). Comparo com a Venezuela, lá se desenvolvem x formas de poder popular, setores são nacionalizados, porém ao mesmo tempo se desenvolve uma burguesia "socialista" em parceria com o Estado e que provavelmente se envolve em formas cooperativas, a chamada boliburguesia. Uma comparação com a Lìbia também é adequada, creio eu. No caso da Coreia, temos o socialismo jucheano, onde temos esse quadro de buguesia comercial(que Kim Il Sung diz ser natural para as condições do socialismo coreano) convivendo com formas socialistas de propriedade(fábricas administradas por trabalhadores ou cooperativas socialistas onde esses burgueses não podem investir para obter retornos). Não quero dizer se isso é certo ou se aquilo é errado, a questão é que se alguém quer entender a formação econômico-social norte-coreana tem que olhar pra esses fatores - ideologia não diz absolutamente nada sobre nada. Como diz a máxima dialética: a contradição é o motor do processo. No mais, atualmente a Coreia do Norte é uma economia de planejamento da escassez, garante serviços básicos para toda população, alimentação(sim, a comida é pouca porém ela é racionada e não objeto de especulação) e tem seu desenvolvimento condicionado pela condição de cerco/guerra em que vive. Teve duros problemas a partir da década de '90 com o desaparecimento da divisão internacional do trabalho do bloco socialista, alterações no comércio exterior com a China e desastres naturais. A Coreia do Sul, por sua vez, começou a "passar a frente" do norte depois da Crise do Petróleo e teve seu boom a partir dos anos '80, e ai pesados investimentos japoneses tiveram um papel importante. Isso permitiu que eles desenvolvessem produtos do campo de tecnologia, que é o que há de mais rentável desde aqueles tempos e o que permite um país se desenvolver nas atuais condições. Mas o preço é ser refém do bando de especuladores que controlam a economia mundial, basta ver a "superioridade" sul-coreana em 1997, quando essa aristocracia cosmopolita devorou as reservas do Banco Central da República da Coreia. Qualquer um que fale do "milagre coreano" ou da "superioridade sul-coreana" e não tem ideia do que seja a crise de '97(e se o faz é porque provavelmente não tem) deveria ser menos arrogante nesse asunto.

O que você pensa do Partido dirigente, o Partido do Trabalho da Coreia, e de sua ideologia?

O Partido do Trabalho da Coreia não é um Partido marxista. Também não é um Partido Comunista tradicional. O Partido surgiu de uma união entre organizações que abarcava "toda a nação", incluindo a burguesia nacional e o campesinato, não como destacamento de vanguarda do proletariado.

O Partido foi formado majoritariamente por camponeses pobres, pequenos proprietários, e facção guerrilheira de onde eles vieram dominou o Partido rapidamente, se sobressaindo em relação aos provenientes de organizações comunistas(dos quais membros-chave seriam expurgados) - a pequena-burguesia como classe sozinha é impotente e sua ação como tal é sempre a serviço da burguesia, ou seja, temos aqui um movimento caracterizado por um nacionalismo burguês progressista(até então). O problema é que a burguesia nacional coreana era(e é) muito frágil, e desse problema surgem uma série de contradições, os beneficios para a vida dos trabalhadores, a opção pelo socialismo etc - se identificaram com os interesses das massas de trabalhadores. Os quadros não estudam o marxismo, só são obrigados a estudar a Ideia Juche e o pensamento de Kim Il Sung. Não tem um método de análise, se vê armado somente com uma sólida ideologia - o que tem suas vantagens e desvantagens - formada por uma série de valores um tanto quanto vagos. Por exemplo, Kim Jong Il fala em "O Socialismo é uma Ciência" que "a essência da política sob o socialismo é o amor e a confiança", que o partido é uma "mãe benevolente" - isso não são principios ou rigidas orientações programáticas que guiam a política e sim uma série de valores mal-definidos que permeiam a mesma, ideologia pura. "Amor e confiança" não substituem a consciência política, a vanguarda como destacamento avançado do proletariado. Apesar da crítica ao marxismo não ser uma negação declarada, por fim ela acaba fazendo o mesmo de "peça obsoleta", falam das limitações do materialismo histórico como se a Ideia Juche fosse um método que tornasse o mesmo supérfluo. Os membros do Partido são selecionados somente com base nos critérios de máxima lealdade e máxima disciplina possíveis. E ter um "background político" bom e um número de façanhas que permitam a entrada no Partido garante beneficios materiais, o que afinal acaba sendo um incentivo apesar da disciplina(quanto mais leal, mais disciplinado, mais confortável) -se não são militantes fanáticos podem ser burocratas domesticados, carreiristas dedicados. Em um discurso de encerramento de uma plenária do Comitê Central(em 17/2/1975) Kim Il Sung afirmou que o Comitê Central deve ter "uma vontade e uma mente" com o Secretário Geral e que o o "espírito do Partido" se traduz na lealdade ao líder. Nesse caso é bom ter em conta que para os coreanos "Líder" é mais que um individuo, mas por via das dúvidas é bom lembrar que num Partido Comunista o Secretário Geral responde ao Comitê Central, não o contrário. O líder representa o Partido, não o contrário. Nesse discurso ele fala da liderança hegemônica como condição necessária para o Partido e etc, porém a liderança se revela no seio do conflito. Lenin teve que enfrentar Bogdanov antes de 1910 e boa parte do Partido que foi criado pelas ideias dele em 1917. Stálin enfrentou esquerda e direita para se consolidar dentro do Partido, e só se tornaria realmente incontestável depois da Guerra Mundial que fortaleceria sua imagem e enfraqueceria a estrutura do Partido(desorganização, morte de quadros, maior militarização, etc). Kim Jong Il afirma em um artigo do Rodong Simun de 25/12/1995 que "a moral comunista encontra sua maior expressão na lealdade ao líder" e em várias ocasiões fala que essa lealdade caracteriza o comunista. Esse é mais uma "exclusividade" dos coreanos. Lenin disse que "nossa moral está completamente subordinada aos interesses do proletariado na luta de classes", sintetizando bem uma ideia inerente ao movimento comunista e já expressa no Manifesto - o comunista deve ser leal aos interesses históricos do proletariado. O marxismo se pergunta quais são as raízes desse culto ao líder, sua função na sociedade coreana - dizer que é "delírio coreano" é insatisfatório pois isso é produto do processo histórico. Esse culto ao líder na Coreia do Norte, que adquire amplas dimensões ideológicas(ou seja, vai bem além de Lenin, Stálin ou Mao) e pode ser compreendido pela situação internacional no qual surgiu e se mantém(conflito sino-soviético, pouco apoio do exterior e cerco). Vejo como uma forma de bonapartismo, pois existe uma burguesia nacional porém frágil demais para exercer qualquer dominação; é produto de uma estrutura de classes frágil e de um campesinato amplo, afinal os camponeses, base da luta guerrilheira, são um ótimo apoio para caudilhos. A necessidade do "GRANDE LÍDER" vem diretamente do já explicado coletivismo, da "burguesia socialista", da estrutura de classes da sociedade coreana. Isso tudo além da fragilidade teórica do Partido, a tradição, a forte influência do confucionismo e a guerra que assentam esse culto. Na Venezuela antiga oligarquia perde espaço, surgem formas de participação popular e um caudilho ganha mais e mais poder ao passo que fica mais e mais importante para o processo, e aqui novamente uma comparação com a Líbia também seria cabível. Como em Cuba temos uma vanguarda guerrilheira que ao se deparar com a nulidade da burguesia nacional em relação ao imperialismo se vê praticamente obrigada ao se identificar com as classes mais pobres - nacionalismo revolucionário e populista do Terceiro Mundo produto da impotência da burguesia nacional frente a rapina imperialista, e que no caso se pintou de vermelho devido a aproximação com os comunistas coreanos e o suporte das tropas soviéticas - o contexto da nascente Guerra Fria é fundamental. Kadafi, que esteve no campo de influência da URSS, por pouco também não "virou comunista", não o fez porque não havia um movimento comunista consolidado na Líbia para ele se apoiar no pós-revolução).



Se não é marxista, porque você apoia?

Olha, eu não sou o Papa, não apoio governo tendo como critério a adesão deste a minha Igreja. Pode ser um problema para a direção, porque a concepção que se desenvolveu sob o leninismo é de que a revolução é dirigida conscientemente por aqueles que conseguem interpretar as forças sociais e as tendências da história, estes que por sua vez a Ideia Juche, se não nega, subestima com o seu "o homem pode tudo" Me opor a uma experiência histórica por ela não ter personagens marxistas a sua frente é no minimo um tanto antimarxista. Marxismo é analisar as relações materiais de produção, o desenvolvimento das forças produtivas e a correlação de forças, as contradições de classe, e assim, depois da análise com bases nesses fatores, formular sua posição. A história caminha independente da vontade dos líderes marxistas, quer dizer, uma posição como essa que eu nego é recuar a ideia de que a história é feita meramente por lideranças - uma ideia extremamente primitiva. Eu apoio a RPDC pelo fato dela representar resistência frente a ordem mundial controlada pela elite das transnacionais, pelos apostadores das finanças e os senhores dos bancos. Sou pelo direito do povo coreano optar não sofrer com inflação e desemprego por culpa de meia dúzia de especuladores como ocorreu na Coreia do Sul em 1997. "Marxismo" ou "ser marxista" não é critério político.

Existe uma monarquia na Coreia do Norte?

Definitivamente não. Kim Jong Il não ocupa nenhuma posição acima do resto do Estado. Kim Jong Il é Presidente da Comissão de Defesa Nacional, cargo indicado pela Assembleia Popular Suprema(eleita por voto popular) e que faz parte do triunvirato fundamental que forma o poder executivo, antes concentrado no cargo de Presidente ocupado por Kim Il Sung, o pai de Kim Jong Il. Existe, sim, muito nepotismo, como fica claro na indicação de Kim Jong Il de seu filho para vice-presidente do seu cargo e vários outros parentes dele ocupando cargos chave diretamente relacionados a ele(sua irmã em sua Comissão; antigamente seu filho Kim Jong Nam como Ministro da Segurança Pública). Resta saber, agora, se ele vai conseguir emplacar o filho como sucessor de sua liderança. Mas vale dizer que essa carga negativa de nepotismo é o que nós achamos, já que ai também tem muito da tradição coreana impregnando a vida social, aliás, essa questão da familia e do "de pai para filho" está muito presente na sociedade coreana como um todo e o Estado inclusive já fez campanhas incentivando filhos seguirem as carreiras dos pais - e em geral o que ocorre é que os intelectuais seguem intelectuais, os operários seguem operários e os camponeses seguem camponeses(as "três classes" em que se divide a sociedade, oficial e formalmente).

Fidel Castro: As duas Coréias (I, II)

 
As duas Coréias - I

"A nação coreana, com sua peculiar cultura que diferentemente de seus vizinhos chineses e japoneses, existe há três mil anos. São características típicas das sociedades dessa região asiática, incluídas a chinesa, a vietnamita e outras. Nada parecido se observa nas culturas ocidentais, algumas com menos de 250 anos.

Os japoneses tinham arrebatado da China na guerra de 1894 o controle que exercia sobre a dinastia coreana e transformaram seu território numa colônia do Japão. Por acordo entre os Estados Unidos e as autoridades coreanas, o protestantismo foi introduzido nesse país no ano 1892. Por outro lado, o catolicismo tinha penetrado igualmente nesse século através das missões. Calcula-se que atualmente na Coréia do Sul ao redor de 25 por cento da população é cristã e um número similar é budista. A filosofia de Confúcio exerceu grande influência no espírito dos coreanos, que não se caracterizam pelas práticas fanáticas da religião.

Duas importantes figuras ocuparam os primeiros planos da vida política dessa nação no século 20. Syngman Rhee, que nasce em março de 1875, e Kim Il Sung 37 anos depois, em abril de 1912. Ambas as personalidades, de diferente origem social, enfrentaram-se a partir de circunstâncias históricas alheias a elas.

Os cristãos se opunham ao sistema colonial japonês, entre eles Syngman Rhee, que era praticante ativo do protestantismo. A Coréia mudou de status: o Japão anexou seu território em 1910. Anos mais tarde, em 1919, Rhee foi nomeado Presidente do Governo Provisório no exílio, com sede em Xangai, China. Nunca empregou as armas contra os invasores. A Liga das Nações, em Genebra, não lhe prestou atenção.

O império japonês foi brutalmente repressivo com a população da Coréia. Os patriotas resistiram com as armas à política colonialista do Japão e conseguiram libertar uma pequena zona nos terrenos montanhosos do Norte, durante os últimos anos da década de 1890.

Kim Il Sung, nascido nas proximidades de Pyongyang, aos 18 anos, incorporou-se às guerrilhas comunistas coreanas que lutavam contra os japoneses. Em sua ativa vida revolucionária atingiu a chefatura política e militar dos combatentes anti-japoneses do Norte da Coréia, quando apenas tinha 33 anos de idade.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos decidiram o destino de Coréia no pós-guerra. Entraram na contenda quando foram atacados por uma criação sua, o Império do Sol Nascente, cujas herméticas portas feudais foram abertas por Comodoro Perry na primeira metade do século 19 apontando com seus canhões ao estranho país asiático que se negava a comercializar com a América do Norte.

O avantajado discípulo se transformou mais tarde em um poderoso rival, como já expliquei em outra ocasião. O Japão golpeou sucessivamente décadas mais tarde a China e a Rússia, apoderando-se adicionalmente da Coréia. Não obstante, foi astuto aliado dos vencedores na Primeira Guerra Mundial à custa da China. Acumulou forças e, transformado em uma versão asiática do nazifascismo, tentou ocupar o território da China em 1937 e atacou aos Estados Unidos em dezembro de 1941; levou a guerra ao Sudeste Asiático e à Oceania.

Os domínios coloniais da Grã-Bretanha, França, Holanda e Portugal na região estavam condenados a desaparecer e os Estados Unidos surgiam como a potência mais poderosa do planeta, resistida apenas pela União Soviética, então destruída pela Segunda Guerra Mundial e pelas inúmeras perdas materiais e humanas que lhe ocasionou o ataque nazista. A Revolução chinesa estava por concluir em 1945, quando a matança mundial cessou. O combate unitário anti-japonês ocupava então suas energias. Mao, Ho Chi Minh, Gandhi, Sukarno e outros líderes prosseguiram depois com sua luta contra a restauração da velha ordem mundial que era já insustentável.

Truman lançou contra duas cidades civis japonesas a bomba atômica, arma nova terrivelmente destrutiva de cuja existência, como se explicou, não havia informado ao aliado soviético, o país que mais contribuiu à destruição do fascismo. Nada justificava o genocídio cometido, nem sequer o fato de que a tenaz resistência japonesa tinha custado a vida de quase 15 mil soldados norte-americanos na ilha japonesa de Okinawa. Já o Japão estava derrotado e tal arma, lançada contra um objetivo militar, teria tido mais cedo ou mais tarde o mesmo efeito desmoralizador no militarismo japonês sem novas baixas para os soldados dos Estados Unidos. Foi um ato inqualificável de terror.

Os soldados soviéticos avançavam sobre a região da Manchúria e do Norte da Coréia, tal como o haviam prometido ao cessarem os combates na Europa. Os aliados tinham definido previamente até que ponto chegaria cada força. Na metade da Coréia estaria a linha divisória, eqüidistante entre o rio Yalu e o Sul da península.

O governo norte-americano negociou com os japoneses as normas que regeriam a rendição das tropas em seu próprio território. O Japão seria ocupado pelos Estados Unidos. Na Coréia, anexada ao Japão, permanecia uma grande força do poderoso exército japonês. No Sul do Paralelo 38, limite divisório estabelecido, prevaleceriam os interesses dos Estados Unidos. Syngman Rhee, reincorporado a essa parte do território pelo governo dos Estados Unidos, foi o líder ao que apoiou, com a cooperação aberta dos japoneses. Ganhou assim as concorridas eleições de 1948. Os soldados do Exército Soviético haviam se retirado da Coréia do Norte nesse ano.

Em 25 de junho de 1950 explodiu a guerra no país. Ainda se discute quem deu o primeiro disparo, se os combatentes do Norte ou os soldados norte-americanos que estavam de guarda junto aos soldados recrutados por Rhee. A discussão carece de sentido se for analisada do ângulo coreano. Os combatentes de Kim Il Sung lutaram contra os japoneses pela libertação de toda a Coréia. Suas forças avançaram incontidas até as proximidades do extremo Sul, onde os ianques se defendiam com o apoio em massa de seus aviões de ataque. Seul e outras cidades tinham sido ocupadas. McArthur, chefe das forças norte-americanas do Pacífico, decidiu ordenar um desembarque da infantaria de Marinha por Incheon, na retaguarda das forças do Norte, que estas não podiam já contra-arrestar.

Pyongyang caiu nas mãos das forças ianques, precedidas por devastadores ataques aéreos. Isso impulsionou a idéia por parte do comando militar norte-americano no Pacífico de ocupar toda a Coréia, já que o Exército de Libertação Popular da China, dirigido por Mao Tsé-Tung, tinha infligido uma derrota esmagadora às forças pró-ianques de Chiang Kai-shek, abastecidas e apoiadas pelos Estados Unidos. Todo o território continental e marítimo desse grande país tinha sido recuperado, com exceção de Taipei e algumas outras pequenas ilhas próximas onde se refugiaram as forças do Kuomintang, transportadas por naves da Sexta Frota.

A história do ocorrido então se conhece bem hoje. Não podemos esquecer que Boris Yeltsin entregou a Washington, entre outras coisas, os arquivos da União Soviética.

O que fizeram os Estados Unidos quando explodiu o conflito praticamente inevitável sob as premissas criadas na Coréia? Apresentou a parte norte desse país como agressora. O Conselho de Segurança da recém criada Organização das Nações Unidas, promovida pelas potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial, aprovou a resolução sem que um dos cinco membros pudesse vetá-la.

Nesses precisos meses, a URSS havia se manifestado desconforme com a exclusão da China no Conselho de Segurança, onde os Estados Unidos reconheciam Chiang Kai-shek, com menos de 0,3 por cento do território nacional e menos de 2 por cento da população, como membro do Conselho de Segurança com direito ao veto. Tal arbitrariedade conduziu à ausência do delegado russo, em conseqüência do qual se produziu o acordo desse Conselho dando à guerra o caráter de uma ação militar da ONU contra o suposto agressor: a República Popular da Coréia.

A China, alheia por completo ao conflito, que afetava sua luta inconclusa pela libertação total do país, viu pairar a ameaça direta contra seu próprio território, o que era inaceitável para sua segurança. Segundo dados publicados, enviou ao premiê Zhou Enlai para Moscou, para expressar a Stalin seu ponto de vista sobre o inadmissível que era a presença de forças da ONU sob o comando dos Estados Unidos nas ribeiras do rio Yalu, que delimita a fronteira da Coréia com a China, e lhe solicitar a cooperação soviética. Não existiam então contradições profundas entre os dois gigantes socialistas.

O contragolpe chinês afirma-se que estava planejado para 13 de outubro e Mao o postergou para o dia 19, esperando a resposta soviética. Era o máximo que podia estendê-lo.

Penso em concluir esta reflexão na próxima sexta-feira. É um tema complexo e trabalhoso, que demanda cuidado especial e os dados mais precisos possíveis. São fatos históricos que devem ser conhecidos e recordados."


As duas Coréias - II

''Em 19 de outubro de 1950 mais de 400 mil combatentes voluntários chineses, cumprindo as instruções de Mao Tsé-Tung, cruzaram o Yalu e foram ao encontro das tropas dos Estados Unidos que avançavam para a fronteira chinesa. As unidades norte-americanas, surpreendidas pela enérgica ação do país que tinham subestimado, viram-se obrigadas a retroceder até as proximidades da costa sul, devido ao empurre das forças combinadas de chineses e coreanos do Norte. Stalin, que era sumamente cauteloso, prestou uma cooperação muito menor que a esperada por Mao, ainda que valiosa, mediante o envio de aviões MiG-15 com pilotos soviéticos, numa frente limitada de 98 quilômetros, que na etapa inicial protegeram às forças de terra em seu intrépido avanço. Pyongyang foi de novo recuperada e Seul ocupada outra vez, desafiando o incessante ataque da força aérea dos Estados Unidos, a mais poderosa que já existiu.

MacArthur estava ansioso para atacar a China com o emprego das armas atômicas. Demandou seu uso depois da humilhante derrota sofrida. O presidente Truman viu-se obrigado a substituí-lo do comando e nomear ao general Matthews Ridgway como chefe das forças de ar, mar e terra dos Estados Unidos no cenário de operações. Na aventura imperialista da Coréia participaram, junto aos Estados Unidos, o Reino Unido, França, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Grécia, Canadá, Turquia, Etiópia, África do Sul, Filipinas, Austrália, Nova Zelândia, Tailândia e Colômbia. Este país foi o único participante pela América Latina, sob o governo unitário do conservador Laureano Gómez, responsável por matanças em massa de camponeses. Com ela, como se viu, participaram a Etiópia de Haile Selassie, onde ainda existia a escravidão, e a África do Sul governada pelos racistas brancos.

Fazia apenas cinco anos que a matança mundial iniciada em setembro de 1939 havia terminado, em agosto de 1945. Após sangrentos combates no território coreano, o Paralelo 38 voltou a ser o limite entre o Norte e o Sul. Calcula-se que morreram nessa guerra cerca de dois milhões de coreanos do Norte, entre meio milhão ou um milhão de chineses e mais de um milhão de soldados aliados. Por parte dos Estados Unidos perderam a vida ao redor de 44 mil soldados; não poucos deles eram nascidos em Porto Rico ou outros países latino-americanos, recrutados para participar em uma guerra à que os levou a condição de imigrantes pobres.

O Japão obteve grandes vantagens dessa contenda; em um ano, a manufatura cresceu 50%, e em dois recuperou a produção que tinha antes da guerra. Não mudou, no entanto, a percepção dos genocídios cometidos pelas tropas imperiais na China e Coréia. Os governos do Japão renderam culto aos atos genocidas de seus soldados, que na China tinham violentado a dezenas de milhares de mulheres e assassinado brutalmente a centenas de milhares de pessoas, como já se explicou numa reflexão. Sumamente trabalhadores e tenazes, os japoneses transformaram seu país, desprovido de petróleo e outras matérias primas importantes, na segunda potência econômica do mundo.

O PIB do Japão, medido em termos capitalistas — ainda que os dados variam segundo as fontes ocidentais —, ascende hoje a mais de 4,5 trilhões de dólares, e suas reservas em divisas atingem mais de um trilhão. É ainda o dobro do PIB da China, 2,2 trilhões, ainda que esta possua 50% a mais de reservas em moeda conversível que esse país. O PIB dos Estados Unidos, 12,4 trilhões, com 34,6 vezes mais território e 2,3 vezes mais população, é apenas três vezes maior que o do Japão. Seu governo é hoje um dos principais aliados do imperialismo, quando este se encontra ameaçado pela recessão econômica e as armas sofisticadas da superpotência se esgrimem contra a segurança da espécie humana.

São lições inapagáveis da história.

A guerra, por sua vez, afetou consideravelmente a China. Truman deu ordens à 6.ª Frota de impedir o desembarque das forças revolucionárias chinesas que culminariam a libertação total do país com a recuperação de 0,3 por cento de seu território, que havia sido ocupado pelo resto das forças pró ianques de Chiang Kai-shek que para ali fugiram.

As relações sino-soviéticas se deterioraram depois, após a morte de Stalin, em março de 1953. O movimento revolucionário dividiu-se em quase todos os lugares. O apelo dramático de Ho Chi Minh deixou registro do estrago ocasionado, e o imperialismo, com seu enorme aparelho midiático, atiçou o fogo do extremismo dos falsos teóricos revolucionários, um tema no qual os órgãos de inteligência dos Estados Unidos se transformaram em especialistas.

À Coréia do Norte lhe correspondeu, na arbitrária divisão, a parte mais acidentada do país. Cada grama de alimento tinha que ser obtida a custa de suor e sacrifício. De Pyongyang, a capital, não restou pedra sobre pedra. Um número elevado de feridos e mutilados de guerra tinha que ser atendido. Estavam bloqueados e sem recursos. A URSS e os demais Estados do campo socialista se reconstruíam.

Quando cheguei em 7 de março de 1986 à República Popular Democrática da Coréia, quase 33 anos após a destruição deixada pela guerra, era difícil acreditar o que ali havia acontecido. Aquele povo heróico tinha construído uma infinidade de obras: grandes e pequenas represas e canais para acumular água, produzir eletricidade, abastecer cidades e regar os campos; termoelétricas, importantes indústrias mecânicas e de outros ramos, muitas delas debaixo da terra, encravadas nas profundidades das rochas a base de trabalho duro e metódico.

Por falta de cobre e alumínio, viram-se obrigados a utilizar inclusive ferro em linhas de transmissão devoradoras de energia elétrica, que em parte procedia da hulha. A capital e outras cidades arrasadas foram construídas metro a metro. Calculei milhões de moradias novas em áreas urbanas e rurais e dezenas de milhares de instalações de serviços de todo o tipo. Infinitas horas de trabalho estavam transformadas em pedra, cimento, aço, madeira, produtos sintéticos e equipamentos. As plantações que pude observar, onde quer que tenha ido, pareciam jardins. Um povo bem vestido, organizado e entusiasmado estava em todos os lugares, recebendo ao visitante. Merecia a cooperação e a paz.

Não houve tema que não fosse discutido com meu ilustre anfitrião Kim Il Sung. Não o esquecerei.

A Coréia ficou dividida em duas partes por uma linha imaginária. O Sul viveu uma experiência diferente. Era a parte mais povoada e sofreu menos destruição naquela guerra. A presença de uma enorme força militar estrangeira requeria o fornecimento de produtos locais manufaturados e outros, que iam desde o artesanato até as frutas e vegetais frescos, além dos serviços. Os gastos militares dos aliados eram enormes. O mesmo ocorreu quando os Estados Unidos decidiu manter indefinidamente uma grande força militar.

As multinacionais do Ocidente e do Japão investiram nos anos da Guerra Fria quantias consideráveis, extraindo riquezas sem limites do suor dos sul-coreanos, um povo igualmente trabalhador e abnegado como seus irmãos do Norte. Os grandes mercados do mundo estiveram abertos aos seus produtos. Não estavam bloqueados. Hoje o país atinge elevados níveis de tecnologia e produtividade. Sofreu as crises econômicas do Ocidente, que permitiram a aquisição de muitas empresas sul-coreanas pelas transnacionais. O caráter austero de seu povo permitiu ao Estado a acumulação de importantes reservas em divisas. Hoje suporta a depressão econômica dos Estados Unidos, em especial os elevados preços de combustíveis e alimentos, e as pressões inflacionárias derivadas de ambos.

O PIB da Coréia do Sul, 787 bilhões 600 milhões de dólares, assim como o do Brasil (796 bilhões) e México (768 bilhões), ambos com abundantes recursos de hidrocarbonetos e populações incomparavelmente maiores. O imperialismo impôs às mencionadas nações seu sistema. Dois ficaram para trás; a outra avançou bem mais.

Da Coréia do Sul mal emigram ao Ocidente; do México, o fazem em massa para o atual território dos Estados Unidos; do Brasil, América do Sul e América Central, a todos os lugares, atraídos pela necessidade de emprego e pela propaganda consumista. Agora são retribuídos com normas rigorosas e depreciativas.

A posição de princípios sobre as armas nucleares subscrita por Cuba no Movimento de Países Não Alinhados, ratificada na Conferência Cúpula de Havana em agosto de 2006, é conhecida.

Saudei pela primeira vez ao atual líder da República Popular Democrática da Coréia, Kim Jong Il, quando cheguei ao aeroporto de Pyongyang e ele estava discretamente situado a um lado do tapete vermelho próximo ao seu pai. Cuba mantém com seu governo excelentes relações.

Ao desaparecer a URSS e o campo socialista, a República Popular Democrática da Coréia perdeu importantes mercados e fontes de fornecimentos de petróleo, matérias primas e equipamentos. Assim como para nós, as conseqüências foram muito duras. O progresso atingido com grandes sacrifícios viu-se ameaçado. Apesar disso, mostraram a capacidade de produzir a arma nuclear.

Quando se aconteceu ao redor de um ano o ensaio pertinente, transmitimos ao Governo da Coréia do Norte nossos pontos de vista sobre o estrago que isso poderia ocasionar aos países pobres do Terceiro Mundo que travavam uma luta desigual e difícil contra os planos do imperialismo em uma hora decisiva para o mundo. Talvez não fosse necessário fazê-lo. Kim Jong Il, já chegado a esse ponto, havia decidido de antemão o que devia fazer, tomando em conta os fatores geográficos e estratégicos da região.

Satisfaz-nos a declaração da Coréia do Norte sobre a disposição de suspender seu programa de armas nucleares. Isto não tem nada que ver com os crimes e chantagens de Bush, que agora se gaba da declaração coreana como sucesso de sua política de genocídio. O gesto da Coréia do Norte não era para o governo dos Estados Unidos, ante o qual não cedeu jamais, senão para a China, país vizinho e amigo, cuja segurança e desenvolvimento é vital para os dois Estados.

Aos países do Terceiro Mundo interessa-lhes a amizade e cooperação entre a China e ambas as partes da Coréia, cuja união não tem que ser necessariamente uma a custa da outra, como ocorreu na Alemanha, hoje aliada dos Estados Unidos na OTAN. Passo a passo, sem pressa, mas sem trégua, como corresponde a sua cultura e a sua história, continuarão sendo tecidos os laços que unirão às duas Coréias. Com a do Sul desenvolvemos progressivamente nossos vínculos; com a do Norte existiram sempre e os continuaremos fortalecendo.''

Fidel Castro Ruz, Havana, 24 de julho de 2008, 18h18.